"No filho adotivo não se realiza a marca genética nem se satisfaz a expectativa social da 'normalidade' reprodutiva. Parece que perdura na cabeça das pessoas a necessidade da reprodução como um atestado de capacidade fisiológica. Não se consideram todos os outros laços que, na pessoa humana, ligam os genitores a seus filhos. Certamente, das ligações familiares, as mais limitadas são as que se referem aos aspectos genéticos. As relações afetivas constituem o grande arcabouço das ligações interpessoais, que perduram, renovam-se e compõem a dinâmica da vida.” "No seu sentido mais profundamente existencial, o filho adotivo surge como um agente de realização e de prazer, mesmo quando sua trajetória é tumultuada e difícil. Nesse aspecto, em nada difere a filiação genética da adotiva. A filiação por adoção carrega o mito da dúvida sobre o acerto da escolha, levando muitas pessoas a assumirem uma atitude preconceituosa e, portanto, inadequada, sobre o seu futuro. Nada do que é passível de acontecer ao filho adotivo deixa de sê-lo, também, ao 'filho biológico'." "Procriar é uma condição dada pela natureza; criar é uma responsabilidade no âmbito da ética entre os homens. É nessa relação que identificamos um dos momentos cruciantes da estabilidade humana: o desnível entre criar e procriar. Procriar é um momento; criar é um processo. Procriar é fisiológico; criar é afetivo. A adoção do filho se insere exatamente aí: na atitude e nos atos de criação no sentido físico e afetivo. O filho, que era sonho, e por ser sonho, tinha a condição fundamental de ser realidade, afirma-se como filho, não pelo processo biológico e fisiológico do nascimento, mas pela adoção afetiva dos pais que, incondicionalmente o amam." "A inexistência dos laços genéticos não invalida as relações parentais." “No processo existencial da vida, uma decisão levará a tantas outras quantas forem necessárias para dar sentido à primeira”. “Erram aqueles que pensam que, na vida, sobretudo nas relações interpessoais, as decisões são isoladas e independentes das que virão mais adiante.” "Para que o filho veja os pais adotivos como os seus verdadeiros pais, nada mais é preciso do que a convivência que supre que permite trocas, que proporciona a oportunidade de ouvir e de falar, de tocar e ser tocado, de chorar e ser consolado”.

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