Depoimento: Família Dante

Entrevistado: mamãe Márcia.

Contem um pouco sobre a sua história do casal e sobre os seus filhos.
Me casei com o Renato muito cedo, eu com 20 anos e ele com 23, após namorar por 7 anos. Já sonhávamos em aumentar a família e assim aconteceu: primeiro veio a Paula e, após 1 ano e 4 meses, o João Vitor. Estávamos realizados e ao mesmo tempo assustados, já que ainda éramos muito novos diante de uma grande responsabilidade! Nesta ocasião, optamos por não ter mais filhos. E assim seguimos, com dedicação exclusiva aos dois, disponibilidade para criá-los com todo o amor e carinho que as crianças precisam.
Abri mão da minha profissão e tornei-me exclusivamente MÃE! Passamos por momentos incríveis e por alguns mais difíceis mas, juntos, resistimos a TUDO! Eles eram crianças encantadoras, alegres, felizes, saudáveis, amorosos, inteligentes, espertos e com um coração enorme! A cada fase da vida deles, vibrávamos juntos. Primeiro dia de escola, primeira comunhão, mudança de escola, primeiro amor, namoros, amizades, preparação para a vida universitária, faculdade e, finalmente, a formatura. Com ela veio uma mudança radical e os dois finalmente chegaram à fase adulta, com as responsabilidades de cada um, a independência e as decisões mais sérias. Hoje a Paula tem 24 anos e João Vitor tem 23 anos.
Mesmo com filhos mais velhos, nos derretemos completamente ao conhecer a Manu, e sabíamos que ela seria nossa filha. Quando decidimos adotá-la, a Paula tinha 23 anos e o João Vitor 22 anos.
Vocês sempre quiseram ter filhos ou esse desejo surgiu em algum momento da vida?
Sempre quisemos ter filhos, fazia parte dos nossos planos desde o tempo de namoro.
Não foi assustador pensar em adotar outra criança depois de ter dois filhos adultos?
Não, não foi assustador. Quando conhecemos a Manu não pensamos em mais nada…
Como funciona a lei para a adoção? É muito complicada?
O nosso caso foi uma exceção. O processo foi rápido e fácil. Ineditamente, em 30 dias a Manu já estava em casa.
Porque vocês resolveram adotar a Manu?
Na verdade, estávamos tranquilos com nossos filhos e não pensávamos em adotar mais um. Até que um dia, conhecemos a Manu, que fez tudo mudar. Ficamos completamente apaixonados e envolvidos quando a conhecemos e foi esse amor que nos motivou e incentivou.
Como foi o processo de adoção?
A Manu foi abandonada ao nascimento. É uma criança especial, nasceu com mielomeningocele e algumas complicações a mais, comprometendo algumas funções físicas e neurológicas. Morou no hospital (ao qual nasceu) até 01 ano e 01 mês de vida, quando veio para nossa casa. Durante a sua estadia no hospital, o serviço social entrou em contato por diversas vezes com a família biológica, tentando criar um vínculo emocional e, quem sabe, sensibilizá-los quanto a importância da presença deles na vida da pequena Manu. Entraram em contato então com o banco de dados das famílias interessadas em adotar uma criança, tanto no estado de SP como em todo o Brasil. Porém, pelo fato de ser uma criança especial, ninguém mostrou interesse. Sendo assim, permanecia hospitalizada por não ter nenhuma entidade capacitada para recebê-la devido aos problemas que ela apresentava e os cuidados que ela necessitava.
Um pouco antes da pequena completar um ano, minha filha mais velha, a Paula, cursando o último ano da faculdade de medicina e passando pelo estágio na pediatria, conheceu a “paciente” e dedicou-se aos cuidados com ela. Foi aproximando-se, cuidando e suprindo as necessidades e carências afetivas, até que eu e o Renato resolvemos conhecê-la. Fomos até o hospital e, como disse acima, nos apaixonamos imediatamente por ela. Ficamos sensibilizados com a triste história de vida e decidimos que tínhamos capacidade pra suprir o que ela precisava, juntando o que nós buscávamos na vida: dar e receber AMOR! A partir daí, partimos para a parte legal da adoção: visitas ao fórum, entrevistas e assim por diante.
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Que cuidados foram necessários quando ela chegou?
Por necessitar de cuidados especiais, tivemos que adquirir e preparar tudo para a vinda dela, não só com os cuidados básicos mas também como a aquisição de equipamentos apropriados para ela, como aspirador, inalador, materiais hospitalares, sondas, oxigênio (que apesar de não ser dependente, precisamos mantê-lo por qualquer eventual intercorrência), entre outros.
Ela respira pela Traqueostomia, se alimenta pela Gastrostomia (portanto, a dieta dela é enteral), urina pela Vesicostomia, não tem e não terá controle urinário e fecal. Além disso, tem dificuldade de alguns movimentos com o membro superior esquerdo e paralisia nos membros inferiores. Aprendemos a realizar tudo o que é necessário para a sobrevivência dela. Nos tornamos pais, cuidadores, enfermeiros, guardiões… Mas acima de tudo, pessoas melhores.
A vinda dela para nossa família fez com que nossa união aumentasse cada dia mais. A presença dela nos fez acreditar em milagre, em amor maior, em amor que vence barreiras.
Como você se sente ao olhar para os olhinhos da Manu hoje em dia?
Hoje me sinto plenamente realizada. Digo sempre que ELA fez muito mais bem pra nós do que nós pra ela. Chegar em casa e ser recebida pelo sorriso mais sincero e pelos olhinhos mais gratos, é indescritível. É nossa força, nosso anjo da guarda e nosso sonho!
O que você diria para os casais que pensam em adotar uma criança?
Digo que é impressionante como um ser humano que foi gerado em outro ventre pode ser tão intrinsecamente amado como se fosse biologicamente nosso! Porque o filho adotado foi o filho escolhido, com maturidade, com amor, com doação.
Com certeza nosso mundo estaria um pouco melhor se tivéssemos atitudes menos egoístas. Eu super recomendo: hoje sou uma pessoa muito melhor, muito mais feliz, muito mais completa!

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