Depoimento de Bárbara Zambelli Martins Garcêz





Amigos, vim contar um pouquinho da minha história… 
Bem, me chamo Bárbara, tenho 30 anos, sou carioca, geógrafa, professora e vivo numa cidadezinha do interior do Rio de Janeiro há cerca de 3 anos. Meus pais são divorciados desde que tenho 13 anos… Tenho 5 irmãos, embora somente 1 seja por parte de pai e mãe. Sou solteira e minha mãe mora comigo. Ela é minha parceira, minha amiga, meu porto seguro, minha animadora, enfim, uma MÃE!!!



Eu sempre quis ser mãe, embora nunca sentisse grande desejo de ser esposa… Os anos passaram, eu nunca encontrei alguém que realmente valesse a pena compartilhar minha existência, mas o desejo de ser mãe só se intensificava. Foi então que o diagnóstico do meu ginecologista, em 2008 caiu como uma bomba na minha vida: por problemas fisiológicos, minha possibilidade de gerar um filho seria quase nula. Restava tratamentos de fertilidade. Mas no meu entendimento, gastar rios de dinheiro num procedimento com tão poucas garantias, enquanto tantas crianças estão espalhadas pelo mundo precisando de um lar era uma incoerência. Então comecei a preparar minha vida espiritual, psicológica e financeiramente para uma gestação da alma, através da adoção.

Em abril de 2010 dei entrada na papelada do fórum para a habilitação, e confesso foi muito mais simples do que eu imaginava. Meu perfil foi: SEXO INDIFERENTE, COR INDIFERENTE, ACEITANDO DOENÇAS TRATÁVEIS, ACEITANDO HIV POSITIVO, IDADE DE 0 13, ACEITANDO GRUPO DE IRMÃOS… Alguns amigos criticaram a amplitude do meu perfil, mas como expliquei a eles, não estava indo numa vitrine escolher um produto, nem tão pouco indo fazer caridade, eu queria ser mãe, não importasse como fosse meu filho ou filha, ele já estava sendo gerado na minha alma e eu o aceitaria como ele viesse e com os desafios que com ele viessem. Tenho fé que seria amparada por Deus da mesma forma que qualquer gestante que também não conhece seu bebê.

Entrevistas… Processo rolando… E aí eis que em julho deste mesmo ano um bebê é abandonado na entrada da cidade onde vivo, ainda com horas de nascida, numa sacola plástica. Eu não quis me envolver com a história para não criar expectativas. No entanto, 3 dias após o fato minha habilitação saiu, e eu aguardei… Dia 4 de agosto de 2010, recebi uma ligação da psicóloga do fórum e ainda lembro de cada palavra: “Bárbara, a juíza mandou perguntar se você tem interesse no bebê que foi abandonado. É uma menina, negra, ainda não tem um mês… Como você é a ÚNICA pessoa habilitada na comarca ela mandou te questionar. Caso você não manifeste interesse, ela será encaminhada para o cadastro nacional”. Meu coração bateu a mais de 1000… Minha barriga doía, eu suava e parecia em trabalho de parto… Não pensei duas vezes, disse que sim e ela disse que eu tinha 5 minutos pra chegar no Fórum para conhecer o bebê.

Foi naquela tarde de 4 de agosto que eu me tornei mãe, quando meus olhos se apaixonaram por aquela pequena pérola, tão frágil, tão viva, tão guerreira… No dia seguinte estava na defensoria pública dando entrada no pedido de adoção, e dia 12 de agosto eu levei Helena para casa e para nunca mais sair de minha vida. Minha primogênita já teve o processo concluído, já tem certidão, onde consto como sua mãe!!! Como meu perfil era muito amplo, jamais imaginei que teria um bebê… E lá estava eu, entre fraldas, mamadeiras, banhos, creminhos, chupetas… Quanta alegria! Viramos a casa das três mulheres… Eu, minha mãe e a pequena princesa Helena!!!

Mas a história ainda não havia terminado… Como no meu perfil eu aceitava grupos de irmãos, apesar da adoção da Helena, meu nome não saiu do CNA. Então, eis que em Janeiro deste ano, 2011, recebo uma ligação de uma comarca de outra cidade, atmbém ainda lembro de cada palavra: “Bárbara, aqui é da comarca de Petrópolis, tudo bom? A gente acessou seu perfil no CNA e ficamos muito felizes, pois temos um grupo de irmãos que se enquadra e que precisa muito de uma família. São duas meninas (uma bebê de 3 meses e uma garotinha de 5 anos) e um menino (de 6 anos). Te interessa?” Naquela hora eu gelei… Afinal, Helena estava só com 6 meses de vida… Como é que eu iria me virar com dois bebês? Mas não tive coragem de recusar, senti aquela coisa no peito de novo… Então, peguei o telefone da comarca e pedi um tempo pra pensar… Ao desligar o aparelho, corri para o ombro da minha melhor amiga, confidente e companheira: minha mãe! Expliquei tudo a ela e para minha surpresa a resposta dela foi a seguinte: “As pessoas não têm gêmeos? Então, é assim que vamos lidar com dois bebês… Você pensava em no máximo três, mas a sua casa é grande e cabem quatro… Eles precisam, você precisa, vamos lá!”. Não esperei e retornei a ligação para o Fórum marcando para o sábado seguinte para ir conhecer as crianças… Então sábado de manhã, lá íamos nós três (eu, minha mãe e a pequena Helena) viajar 300 km para conhecer o complemento da nossa família.

Chegando lá, conhecemos a pequena Kamille (que tinha 3 meses mas era menor que um recém-nascido, pois pesava 3 kg) e a dupla dinâmica Karolyna e Kauã (mais colados que unha e carne). Foi amor mesmo, porque paixão dá e passa. Já saímos de lá imaginando as obras na casa!!! E a Helena, que não era de aceitar qualquer pessoa, gamou nos irmãos… Iniciava-se assim, 2 meses de estágio de aproximação, onde eu dirigia 600 km todo sábado, junto com minhas fiéis companheiras, para estar junto com os outros filhos no “Lar de Crianças”. No carnaval, recebi autorização para Kauã e Karol passarem uma semana comigo… Foi uma alegria e uma bagunça… Minha cabeça estava na pequena Kamille, que ficou no abrigo, mas a farra foi farta… No sábado pós-carnaval tive que levá-los de volta, com o coração na mão. Quando chegou no abrigo, eles entraram, o portão fechou e eles atrás esticaram a mão e falaram: “Mãe, você volta, né? Não demora pra levar a gente pra casa tá…” Achei que fosse morrer… Voltei os 300 km dirigindo aos prantos…

Quando cheguei em casa, olhava o quartinho deles, já todo decorado e vazio… Ai, me arrepio só de lembrar… Mas na segunda-feira, a psicóloga do Fórum ligou e disse que eu podia buscá-los na terça… Ai que alegria, quando terça-feira, 15 de março de 2011 amanheceu… Rumei para Petrólolis e trouxe todos pra casa… Kamille fazia aniversário de 5 meses e estava tão linda… Kauã e Karol eufóricos, e eu me sentindo COMPLETA! Assim foi… estamos juntos e a casa hoje é a das 5 mulheres e 1 homem!!! É verdade, nunca mais dormi um sono completamente tranquilo… Silêncio, só de madrugada… Minhas finanças estão justas… Mas estamos muito felizes, e é isso que importa.

Como sou funcionária pública estadual, sou beneficiada pelo programa “Um Lar Para Mim” e recebo um auxílio para os 2 mais velhos (prova de que Deus nunca nos desampara). Vivo com o suficiente para que eles tenham uma boa educação e saúde, comida de qualidade e muito amor e atenção! Helena é muito saudável. Kauã, Karol e principalmente Kamille são crianças que muito sofreram, tem baixo peso e apresentam alguns problemas de saúde, mas estamos tratando e tudo está se resolvendo… Minha duplinha já estuda, e são ótimos alunos… São obedientes, carinhosos e travessos… Minhas quase gêmeas são muito amigas e hoje uma com 13 meses e a outra com 10 meses, estão aprendendo juntas a falar, andar, enfim, a viver.
Hoje posso dizer que sou A MÃE MAIS COMPLETA E FELIZ DA FACE DA TERRA!

8 comentários

  1. E existe forma mais linda de doar nosso coração ???
    Parabens... lindo este cantinho onde se respira AMOR INCONDICIONAL. Beijinhos

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    1. Agradeço pelo comentário, o cantinho é nosso, vc esta em casa! tudo de bom! Paz e Bem!

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  2. Jussara...sua história é linda!!! me emocionei muito quando li....Parabéns pela família linda! Deus a abençoe infinitamente por ter tanto amor e saber partilhar com seus filhos que precisavam tanto. beijos

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    1. Sabrina, sou mesmo Abençoada, tenho pessoas especias ao meu lado, pessoas assim como vc que me apoiam e me acolhem com tanto carinho. Paz e Bem!

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  3. Olá, querida
    Em minha família temos vários adotados...
    Feliz 2014!!!
    Bjm fraterno

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  4. Nem preciso dizer que chorei até..................Que história linda!
    De que cidade ela é afinal?

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  5. Linda a história.Eu também fui adotada aos 11 anos de idade juntamente com mais 3 irmãos ,infelizmente um veio a falecer quando tinha 8 anos.A minha mãe biológica separou do meu pai,dae ela se casou com com outro homem e teve mais 3 filhos,ela nos abandonou para morar com outro homem,e nunca mais eu a vi,o juiz da minha cidade resolveu falou que ela tinha perdido nossa guarda.Dae minha mãe adotiva disse que ficaria com os 4 filhos,eu 11 anos,sidney 9,Hirley 7,Gisele 3 anos.( Hirley faleceu quando foi obrigado a ficar com sua madrinha de batismo,ele faleceu devido ao um raio,ele estava fora da casa) foi um choque na época ,Gisele se revoltou e até hoje odeia nossa mãe adotiva,Sidney é neutro ,e eu fui a única que até hoje estou do lado da minha mãe adotiva,hoje mora fora do Brasil,mas ligo para ela todo dia 3 vezes ao dia,ela é como você ,que adotou 4 de uma vez só,ela teve 2 meninas biológicas ,depois que nos adotou,infelizmente a Erica sofreu um acidente quando era recem nascida e ela não fala,e tem mutos problemas,hoje ela tem 23 anos,e a caçula da família .Mas a felicidade é saber que por causa na nossa mãe nos salvou de um futuro que poderia ser ainda mais trágico ,hoje somos honestos e trabalhadores,a Marta está no último anos de direito,eu sou babá de duas crianças americanas ,sydney trabalha como mestre de obras,Giselle fez pedagogia,tudo por causa dessa guerreira chamada mãe do coração :)

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